Em outubro do ano passado comentamos a respeito do projeto que pretendia alterar o nome da avenida Adhemar de Barros em Salvador para avenida Milton Santos. Hoje, dia 22 de fevereiro de 2022 o projeto de lei que prevê a alteração foi sancionado!

Uma vitória para não somente para a Geografia, mas para toda a comunidade negra que não se vê representada na maioria dos logradouros do país, principalmente em Salvador, a capital com a maior quantidade de negros do Brasil.

Qual a relação de Milton Santos com Salvador?

O geógrafo Milton Santos não nasceu na capital da Bahia, e sim no interior, na cidade de Brotas de Macaúbas. Sua formação em Direito ocorreu na Universidade Federal da Bahia (UFBA), localizada até então na avenida Adhemar de Barros.

Apesar de sua formação, Milton Santos se destacou na Geografia, conquistando “Nobel” desta ciência, o Prêmio Vautrin Lud. Uma grande conquista não só para a Geografia brasileira, mas para a população negra.

A personalidade que batizava a avenida, o político Adhemar de Barros, era branco, paulista, e não possuia qualquer tipo ligação com a capital baiana. Filho de tradicionais cafeicultores, teve sua carreira política no estado de São Paulo marcada por escândalos de corrupção.

A desigualdade nos logradouros do Brasil

A avenida Milton Santos passa a ressignificar o espaço na capital baiana, homenageando uma personalidade negra, que alcançou o mais alto grau de destaque dentro da Geografia.

Essa vitória pode ser o início da representatividade que é necessária nas ruas do Brasil, país de maioria negra, que contraditoriamente homenageia mais brancos em seus logradouros.

Segundo dados do IBGE, no Brasil há cerca de 1 mil logradouros homenageando a Princesa Isabel, considerada na história contada por brancos como a heroína do abolicionismo.

No entanto, Isabel era proprietária de escravos e assinou a Lei Áurea pela pressão externa dos ingleses e pela pressão interna das revoltas nas senzalas e de grupos abolicionistas, tornando-se inviável economicamente e politicamente a escravidão.

Outro sinal da desigualdade nos logradouros do país é evidenciado pela quantidade de homenagens ao escritor branco e abolicionista Castro Alves, que possui cerca de 1 mil logradouros, o dobro em relação ao escritor negro Machado de Assis, considerado o maior nome da literatura brasileira, com 496 logradouros.

Que venham outras ruas homenageando personalidades negras como Milton Santos, Dandara, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis, Elza Soares, Gilberto Gil, Antônio Rebouças, Tia Ciata, Carolina de Jesus e muitos outros!

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