Por volta das 9 horas do dia 01 de fevereiro de 2022, ocorreu um acidente (sem vítimas fatais) na polêmica obra da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, que foi segregado pela elite paulistana. Como resultado de uma erosão interna, uma enorme cratera se abriu no asfalto, interditando uma das pistas da Marginal Tietê.

O solo das margens do Rio Tietê, de textura arenosa, está cada vez mais vulnerável devido o seu uso inadequado, sobretudo no perímetro urbano, onde existe uma significativa ocupação.

Portanto, não é novidade a ocorrência de acidentes como estes, inclusive, envolvendo, em outras oportunidades, linhas de metrô da maior cidade do Brasil.

O resultado de tudo isso não poderia ser outro, senão a ocorrência de desastres com prejuízos econômicos, transtornos sociais, riscos para população e lentidão no trânsito.

Podemos citar, para lembrar de outro caso semelhante a esse acidente da Linha 6-Laranja, o deslizamento de terra no canteiro de obra da Linha 4-Amarela, às margens da Marginal Pinheiros, em 2007, que também tem relação com a ocupação indevida da malha urbana.

A obra que tinha previsão de entrega para 2020, passou por sucessivos atrasos, principalmente pelo envolvimento das construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC na operação Lava Jato. A linha 6-laranja foi projetada para ligar Vila Brasilândia na zona norte de São Paulo a São Joaquim no Centro, tendo cerca de 15 km e com capacidade para atender diariamente 630 mil pessoas.

A polêmica da segregação

A linha 6-laranja esteve associada a uma polêmica envolvendo a elite paulistana de Higienópolis bem antes de sua construção. Por se tratar de um área nobre, uma das estações do projeto seria construída na avenida Angélica, uma das principais do bairro, o que gerou posicionamentos contrários à sua construção.

Em uma entrevista a Folha de São Paulo, os moradores alegaram que rejeitavam a construção da estação pela “degradação” da área com o acesso de “gente diferenciada” ao bairro, se referindo a ambulantes, mendigos e drogados. Por mais escandalosa que tenha sido essa proposta de segregação, o governo na época liderado por Geraldo Alckmin acatou a mudança de endereço atendendo os desejos da elite paulistana.

Vídeo com depoimentos dos moradores de Higienópolis a respeito da construção da estação da linha 6-laranja do Metrô na Avenida Angélica. Fonte: Uol.

Mas diferente do que pensavam os moradores de Higienópolis em todo seu conservadorismo, inúmeros bairros de São Paulo tiveram seus terrenos valorizados pela proximidade de linhas de metrô que foram construídas nesses anos, como em Pinheiros, Brooklin e Santo Amaro, demonstrando uma nova visão a respeito da mobilidade urbana sobre trilhos.

As causas do desabamento

Segundo o secretário dos Transportes Metropolitanos, Paulo José Galli, o que causou a erosão e desabamento foi o vazamento de uma galeria de esgoto, fazendo o solo de textura arenosa não suportar o peso e ceder. O que pode ter causado a ruptura da galeria foi a trepidação da máquina de escavação de túneis conhecida como “tatuzão”.

A obra está sendo realizada sob um solo arenoso em um período de fortes chuvas. Segundo o professor de engenharia da FAAP, Paulo Sergio Lanzaroto, uma obra nessas condições necessitaria de um processo de drenagem, já que o solo estaria saturado com as chuvas.

Um outro agravante neste acidente seria a defasagem no cadastro de adutoras e galerias, que se encontra em muitos casos desatualizados pelo poder público. É possível que houvesse um desconhecimento da passagem da galeria que se rompeu próximo a obra.

Em muitas das obras realizadas, a responsabilidade é toda da construtora, ou seja, é ela quem faz a obra e fiscaliza ao mesmo tempo. É necessário portanto no processo de licitação, ter uma empresa para realizar a obra e outra para fiscalizar e monitorar de maneira independente, para que tragédias não se repitam.

Obras a todo vapor: ano de eleições

Com os atrasos na obra e com o acidente, a linha tem a prevista para 2020 será entregue em 2025. Mas em ano de eleições, há o interesse urgente de se acelerar as obras, já que o atual governador de São Paulo, João Dória, é futuro candidato a presidência da República.

Seu partido, que governa o estado há décadas, não conseguiu resolver os grandes problemas da maior metrópole do Brasil, principalmente os de mobilidade urbana, e portanto, essa hegemonia pode estar com os dias contados.

Essa obra é só mais um exemplo da péssima gestão feita pelo PSDB no estado de São Paulo, que está quase 30 anos no governo. Completando 15 anos do deslizamento no canteiro de obras na Marginal Pinheiros, os erros voltam a se repetir, deixando o contribuinte a espera de soluções que resolvam os problemas de mobilidade urbana da metrópole São Paulo.

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