Filme “O Abismo” da Netflix e o desastre em Maceió
A história do filme “O Abismo” “O Abismo” é um filme sueco disponível na Netflix, inspirado na história ocorrida na
Em 1976, foi lançada a música “fotografia 3×4” do cantor e compositor Antônio Carlos Belchior, mais conhecido como Belchior. A música relata a realidade vivenciada pelo migrante nordestino na região Sudeste, situação comum na época onde o Brasil vivia intensos fluxos de migrações internas.
A partir da interpretação de Belchior, podemos perceber as dificuldades que esses migrantes enfrentavam nas décadas de 1960 – 1980.
No Brasil, em meados do século XX, ocorria um intenso movimento migratório (1960 – 1980), na ocasião muitos se deslocavam do campo para as cidades grandes, em destaque da Região Nordeste rumo à Região Sudeste.
Vários dos fatores justificam esse deslocamento, como é o caso do desenvolvimento econômico em outras regiões, a desconcentração industrial que culminou na ampliação da oferta de emprego, e por fim o crescimento urbano, o avanço da urbanização proporcionou a melhoria na infraestrutura de transportes e telecomunicações e de energia elétrica no país.
Conforme os notáveis avanços ocorrem, também aumentam as dificuldades de se viver na cidade grande, em determinadas localidades. Belchior nos traz essa reflexão em relação a busca por melhoria de vida, como muitos brasileiros que residem nesse país de dimensões continentais.
Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei
Jovem que desce do Norte pra cidade grande
Os pés cansados e feridos de andar légua tirana
E lágrimas nos olhos de ler o Pessoa
E de ver o verde da cana
É sabido que por motivos econômicos e climáticos no Brasil ocorreram e ainda ocorre uma grande migração de pessoas, advinda das regiões norte e nordeste, para as regiões de maior desenvolvimento como sudeste e sul. “Os pés cansados e feridos de andar légua tirana”, já de início o autor nos mostra essa realidade do migrante, a distância causa sofrimento, a obrigação de deixar o seu lugar de origem e migrar para outra terra.
Em cada esquina que eu passava, um guarda me parava
Pedia os meus documentos e depois sorria
Examinando o três-por-quatro da fotografia
E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha
Nota – se o contexto histórico em que o autor vivenciava, ou seja, revela o cenário político da época em que Brasil passava pelo regime militar, regime esse iniciado em 1964 e que durou até 1985, a discriminação e a perseguição eram comuns nos tempos em que o Brasil era governado por militares.
Pois o que pesa no Norte, pela lei da gravidade
Disso Newton já sabia, cai no sul grande cidade
São Paulo violento, corre o rio que me engana
Copacabana, Zona Norte
E os cabarés da Lapa onde eu morei
O contraste entre a sua terra de origem e a nova morada, referindo – se a uma característica das cidades grandes, o crescimento populacional, as concentrações urbanas geram problemas como violência e falta de empatia com o próximo, o caos da cidade difere do campo, que é calmo e devagar.
Mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar
Que o homem é pra mulher e o coração pra gente dar
Mas a mulher, a mulher que eu amei
Não pode me seguir
Apesar das controvérsias ele não esqueceu as suas raízes, as dificuldades não o impediram de construir sua história, nesse contexto há também a questão familiar, pois muitos são obrigados a deixar esposa e amigos para buscar uma vida melhor.
Desses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem
Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do Norte e vai viver na rua
A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
E pela dor eu descobri o poder da alegria
E a certeza de que tenho coisas novas
Coisas novas pra dizer
Nesse trecho nota-se a dificuldade que é de deixar sua terra, largar tudo e recomeçar, de chegar na cidade grande sem nenhum conhecido se quer, sem nenhum amparo. Somente com esperança de que sua vida irá melhorar, o nordestino chega para ganhar a vida nas grandes cidades.
A minha história é, talvez
É talvez igual a tua, jovem que desceu do Norte, que no Sul viveu na rua
E que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo
E que ficou desapontado, como é comum no seu tempo
E que ficou apaixonado e violento como, como você
Nesse trecho, em uma comunicação direta com os conterrâneos, se tornando um tanto realista, a partir de sua experiência na cidade grande, mudando o seu comportamento e sua filosofia de vida. O jovem que desceu do Norte foi amadurecendo, o tornando mais violento, mais frio, retirou sua vontade de sonhar e o tornou realista.
Então, Belchior é mais um migrante nordestino que deixou seu lugar, onde o afeto tomava conta da sua vivência, para viver no caos da cidade grande e que através da música nos diz com clareza o que se passa, cada um que tenta mudar sua qualidade de vida nos centros industriais do Brasil.
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