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O Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas declarou que a migração de venezuelanos constitui um dos maiores e mais significativos fluxos de população em massa na história da América Latina. Estimativas da ONU afirmam que mais de 2,3 milhões de venezuelanos deixaram o país desde que a crise político-econômica passou a assolar o país.

Nos últimos 18 meses, 128 mil cruzaram a fronteira com o Brasil, sendo realizados mais de 50 mil pedidos de refúgio ou visto de residência temporária. Os países vizinhos da América hispânica como Peru, Equador e Colômbia, são os mais procurados, com número de migrações venezuelanas que ultrapassam 400 mil pessoas.

A fronteira de Roraima, que chegou a ficar fechada por 17 horas mas voltou a permitir a entrada de venezuelanos após a decisão Tribunal Federal da 1ª Região (TRF1), chega a receber em média 500 venezuelanos por dia, número que chegou a 1200 em janeiro deste ano.

No sábado, dia 18/08, após a notícia de tentativa de assalto a um comerciante brasileiro na cidade de Pacaraima, onde a acusação responsabilizou cidadãos venezuelanos pelo crime, começaram os ataques a acampamentos e barracos, inclusive com a queima de pertences.

Cidade de Pacaraima (RR) na fronteira com a Vanezuela.

No conflito, 30 brasileiros foram agredidos como forma de retaliação. Cerca de 1,2 mil venezuelanos foram empurrados de volta para seu país, aos cânticos do hino do Brasil ecoados por brasileiros contidos pelo exército, conforme mostra o vídeo abaixo.

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A proporção tomada pelo episódio foi enorme após a divulgação deste vídeo, dividindo opiniões, verificando-se de um lado, o apoio de parcela da população brasileira que tende para um discurso mais extremista, aproveitando a onda de discursos políticos como o de Donald Trump nos E.U.A., Marine Le Pen na França e Jair Bolsonaro no Brasil. Esta xenofobia tupiniquim vai contra a virtude acolhedora do país.

João Carlos Jarochinski Silva, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), expõe que a entrada de venezuelanos no estado de Roraima é residual se comparado ao tamanho da população local.  Considerando o velho coronelismo e o patriarcalismo político presente no estado, o papel do imigrante é desinteressante, já que não tem importância eleitoral, porém serve como bode expiatório para justificar a ineficiência de serviços públicos como saúde e segurança. Apesar disso, estudos da FGV mostram que 48,4% dos venezuelanos em Boa Vista, até outubro de 2017, não utilizaram qualquer serviço público.

Em um momento de crise política, as figuras que estão no controle do estado utilizam a questão imigratória para se manter no poder. O estado de Roraima enfrenta problemas com suas finanças, atrasando salários de servidores, que constituem uma boa parte de suas famílias no estado, sendo assim, a população não está disposta a defender investimentos sociais para a população imigrante. A xenofobia se mostra como óbvia onde a política se isenta de suas responsabilidades.

O apoio popular que estes movimentos xenofóbicos vem ganhando em outras partes do país, é reflexo da insegurança devido a situação político-econômica que o Brasil também vive, na qual o discurso de ódio vem ganhando força e parece ser a resposta para todos os problemas. A xenofobia tupiniquim vai contra os próprios anseios de muitos brasileiros que sonham em deixar o país, mas não se reconhecem na figura de imigrante. É um tiro no próprio pé.

Atualmente, cerca de 1,3 milhões de brasileiros vivem fora da América do Sul. Devido a intensa emigração brasileira (em muitos casos permanente), fizeram com que o país passasse para o segundo lugar entre os mais barrados em aeroportos da Europa. Pesquisas do DataFolha mostram que 50% dos que têm entre 25 e 34 anos gostariam de abandonar o Brasil. Entre 2011 e 2017, o número de brasileiros que entregaram declarações de saída definitiva a Receita Federal subiu 165%, um total de 21,7 mil brasileiros.

Para refrescar a memória dos xenófobos tupiniquins, é necessário lembrar do período de frustração com a economia no governo Collor (1990-1992), com o confisco de poupanças, que causou um grande aumento nas emigrações. Apesar dos E.U.A. serem o destino preferido dos brasileiros neste período e até hoje, o segundo lugar pertencia ao nosso vizinho, o Paraguai, onde os imigrantes ficaram conhecidos como Brasiguaios. Para os venezuelanos, mesmo com as facilidades para cruzar a fronteira, o Brasil acaba sendo uma das últimas opções, e dos que entram, mais da metade sinalizam a vontade de viver em outro país.

O papel dos que deixaram o país chegou as partir da década de 1990 a ser tão importante, que passou a pesar nas contas externas do país, onde em 2002, as remessas de dólares enviadas do exterior chegaram a 2,6 bilhões de dólares, superando as vendas de aviões (2,3 bilhões).

O Brasil é um país erguido por imigrantes, possuímos a maior comunidade italiana fora da Itália e a maior comunidade japonesa fora do Japão. Muitos brasileiros convivem com o desejo da emigração. Qualquer conclusão sobre o refúgio de venezuelanos no Brasil será infundada. Deve-se neste momento apoiar condições dignas de permanência dos nossos vizinhos que deixam seu país por um contexto de crise político-econômica, assim como esperam ser bem recepcionados e acolhidos os 1,3 milhão de brasileiros que vivem fora do país buscando melhorias nas condições de vida. A xenofobia tupiniquim vai contra o próprio povo brasileiro, que estruturou sua nação ocupando terras indígenas, que tem descendência imigrante ou que tem o sonho de construir a vida fora do país.

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