Na sexta-feira, dia 11 de março de 2022, assumiu no Chile o governo de esquerda do presidente Gabriel Boric, de 36 anos, o mais jovem a liderar o país. Em sua equipe de governo, composta majoritariamente por mulheres, se encontra a geógrafa Camila Vallejo, que assumiu a Secretaria Geral de Governo.
Camila Vallejo nasceu em 1988 na capital do Chile, Santiago. Construiu sua carreira política na liderança da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, onde cursou Geografia. Além de atuar no movimento estudantil, foi militante das Juventudes Comunistas do Chile.
Sua tese intitulada “Construcción social de territorios vulnerables : la geografía social del riesgo en Concepción, Talcahuano, Hualpén y San Pedro de la Paz”, aborda a relação entre algumas regiões do Chile e suas condições de pobreza.
De acordo com Vallejo, há regiões onde a segregação é influenciada pela livre apropriação da terra, onde há uma discriminação de pessoas com condições socioeconômicas mais baixas. Há uma crítica ao modelo neoliberal chileno, que como resultado de suas políticas e instrumentos de planejamento urbano, expõe as populações de baixa renda a situações de risco natural, situação semelhante à do Brasil.
Infelizmente, não foi autorizada a publicação da tese no repositório acadêmico da Universidade do Chile.
Nos anos de 2011 e 2012, durante os protestos nacionais no Chile realizados por estudantes universitários e do ensino secundário, Camila Vallejo demonstrou sua capacidade de liderança sendo porta-voz do movimento estudantil.
O antecessor de Gabriel Boric, o empresário e economista Sebastián Piñera, assumiu o governo em 2010, escolhendo para o Ministério da Educação Joaquín Lavin, fundador e acionista da Universidade de Desenvolvimento, uma instituição privada, o que representou além de um claro conflito de interesses, um fortalecimento da lógica de mercado no sistema educacional.
Como não existem universidades públicas no Chile, 70% dos estudantes acabam se endividando e a evasão por motivos financeiros chega a 65%. Esse modelo perpetuou as desigualdades no país, que é considerado um modelo de sucesso pela direita brasileira.
A mobilização estudantil no Chile em 2011 e 2012 foi uma resposta ao modelo neoliberal de educação, herdado da ditadura de Augusto Pinochet, que deixou a educação nas mãos do mercado em detrimento do ensino público. Os estudantes, entre eles Camila, além de denunciarem a mercantilização da educação, passaram a exigir uma educação gratuita e de qualidade.
Após a notoriedade conquistada nas manifestações de 2011 e 2012, Camila Vallejo foi destaque nos tablóides chilenos e internacionais, onde passou a também enfrentar discriminação por ser uma mulher jovem e de esquerda.
Jornais como o The New York Times batizaram Camila de a “revolucionária mais glamorosa do mundo”, e o britânico The Guardian, a elegeu como personalidade do ano em 2011, disputando com mulheres como Angela Merkel.
Em 2013, Camila foi eleita deputada pela primeira vez, após dar a luz a sua primeira filha, sendo reeleita em 2017.
Junto com outras deputadas, criou a Bancada Feminista Julieta Kirkwood, em homenagem a socióloga e cientista política chilena. A bancada foi responsável pela criação da Comissão das Mulheres e da Equidade de Gênero, além da aprovação em 2021 da descriminalização do aborto nas primeiras 14 semanas de gestação.
Em 2022, no governo Gabriel Boric, Camila Vallejo assume a Secretaria Geral de Governo. Dos 24 ministérios disponíveis, 14 foram ocupados por mulheres. Um destaque vai para Maya Fernanda Allende, neta do ex-presidente Salvador Allende, deposto pelo golpe militar de Augusto Pinochet. Ela irá comandar o Ministério da Defesa, controlando a instituição que no passado assassinou seu avô.
Que Camila Vallejo continue com seu excelente trabalho no Chile, fortalecendo ainda mais os movimentos feministas, estudantis, a esquerda latino-americana, e que também seja capaz de demonstrar a importância da sua formação em Geografia, uma ciência capaz de nortear políticas públicas que prezam pela justiça social.
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