Desde o dia 15 de fevereiro, fortes chuvas acabaram por atingir a cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, deixando ao menos 171 mortos, de acordo com dados do Corpo de Bombeiros. De fato, uma tragédia!

Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a tempestade que atingiu o município foi a maior já registrada na história de Petrópolis. Em apenas seis horas, foram registrados 260mm de chuva – o que era o esperado para o mês inteiro para a cidade.

Como resultado das chuvas, Petropólis viu sua estrutura urbana e de suas hinterlândias serem bastante danificadas a ponto do alerta para risco “muito alto” de ocorrência de deslizamentos, emitido logo no começo das chuvas pelo Cemaden, infelizmente vir a se concretizar.

Por sua vez, tal movimento de massa, além de ter provocado centenas de mortes e vítimas, acarretou na ocorrência de diversos danos em pontos turísticos, residenciais e lugares conhecidos pelos moradores.

Para se ter ideia, o MapBiomas realizou uma comparação do antes e depois de duas regiões atingidas pela lama decorrente de deslizamentos. O MapBiomas é um projeto dedicado à promoção do mapeamento anual de cobertura e uso do solo do Brasil e à disponibilização de dados e mapas de forma aberta e gratuita.

No topo, imagens comparadas pelo MapBiomas apontam a região dos bairros Valparaíso e Alto da Boa Vista, entre as ruas Washington Luiz e Teresa. Abaixo, região do Morro da Oficina. — Foto: MapBiomas – Planet/SCCON

A partir da análise das imagens de satélite das áreas afetadas pelo temporal em Petrópolis, pode ser feita alusão ao debate sobre a suscetibilidade do território brasileiro aos movimentos de massa, sendo capaz de definir as áreas de maior risco dentro do território, regiões estas na maioria de vezes afastadas do centro urbano de uma cidade e com uma população socialmente mais vulnerável. Tal fato faz com que o interesse pela temática dos movimentos de massa na Geografia não se restrinja apenas à Geografia Física, mas também seja enfocado pela Geografia Humana.

Movimentos de Massa no Brasil

Por Movimento de Massa, também denominado como deslizamento, escorregamento, ruptura de talude, queda de barreiras, entre outros, entende-se como sendo os movimentos de descida de solos e rochas sob o efeito da gravidade, geralmente potencializado pela ação da água.

Segundo o Cemaden, o Brasil é considerado muito suscetível aos movimentos de massa devido às condições climáticas marcadas por verões de chuvas intensas em regiões de grandes maciços montanhosos.

No caso de Petrópolis e de outras localidades da região Sudeste marcadas pela presença de feições geomorfológicas de altitude e declividade significativas, essa condição foi intensificada pela atuação incisiva da ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul) nesse período. A ZCAS corresponde ao principal sistema atmosférico de grande escala responsável pelo regime de chuvas sobre as Regiões Sul e Sudeste do Brasil durante os meses de primavera e verão.

Uma análise para além do Movimento de Massa

Como dito, o estudo dos movimentos de massa deve ser interesse da Geografia Humana. Ao fazer isso, ela ajuda a reconhecer que a ocorrência desses movimentos podem tomar proporções catastróficas nos centros urbanos por, principalmente, serem nesses locais onde as atividades humanas são realizadas de maneira mais intensa.

Dentre estas atividades, estão cortes em talude, aterros, depósitos de lixo, modificações na drenagem, desmatamentos, entre outras, o que acaba por aumentar a vulnerabilidade das encostas para a formação desses processos geomorfológicos.

Essa condição é agravada, principalmente, quando ocorrem ocupações irregulares, sem a infraestrutura adequada, em áreas de relevo íngreme.

Acerca disso, a tragédia em Petrópolis revela duas coisas: a primeira está ligada à reação da natureza a ação humana, enquanto a segunda diz respeito ao processo desordenado de organização do espaço urbano e de infraestrutura dos grandes centros urbanos.

Analisando a segunda, fica ainda mais evidente que quando esse tipo de incidente ocorre em áreas de ocupações irregulares, elas ficam mais suscetíveis a deslizamentos. Paradoxalmente ou não, são exatamente nessas áreas onde habitam trabalhadores e trabalhadoras, de menor renda, em decorrência de um fenômeno urbano próprio de uma sociedade capitalista como a nossa que retira deles as condições mínimas de moradia decente em suas cidades.

Desse modo, o espaço urbano passa a refletir a segregação que existe no nível das relações econômicas.

Ligada à espoliação urbana, ela é a chave para a analisar a expansão dos grandes centros urbanos e a precarização de vasta parcela da população. É por causa dela que grande parte da moradia de grupos excluídos são barracos, cortiços e favelas cujas condições de alojamento expressam a precariedade dos salários.

É também esta situação de precariedade – somada a falta de políticas públicas de habitação – que leva ao risco constante de ser vítima de uma tragédia como a que ocorreu em Petrópolis.

Estudantes de Geografia levam ajuda a Petrópolis

O projeto Geo Sem Fome, encabeçado por estudantes de graduação em Geografia da UERJ-FEBF, está arrecadando fundos e doações para levar às famílias atingidas em Petrópolis.

Ajude os moradores de Petrópolis e faça sua doação através dos dados bancários abaixo.

Ajude os moradores de Petrópolis através do projeto Geo Sem Fome.

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