Considerado um dos maiores fracassos da DC Comics no cinema e sendo criticado até mesmo por Ryan Reynolds quem deu vida ao protagonista da trama, é preciso admitir que “Lanterna Verde” não é um bom filme, o que já é ponto de partida para se entender o que será abordado neste artigo.

O filme conta a história de Hal Jordan, personagem de Ryan, um piloto de caças americano que balança sua vida rotineira com as responsabilidades de cuidar de seu sobrinho, parecer bem na fita para sua ex-namorada (Blake Lively), por quem ainda é apaixonado, e também superar o medo deixado pela traumática morte de seu pai.

Tudo parece bem, até que Hal encontra um extraterrestre do planeta Ungara, Abin Sur (Temuera Morrison), e é escolhido para se tornar parte da Tropa dos Lanternas Verdes, uma polícia intergaláctica composta por diferentes espécies alienígenas, e que combatem o mal por todo o universo.

É fato que soa um tanto quanto clichê essa ideia de querer “salvar” o universo de um dado inimigo tal como pode ser visto em outras produções heroícas. A exemplo, temos o vilão Thanos, da Marvel Studios, que, apoiado numa ideologia claramente malthusiana, tem o objetivo de dizimar metade da população para que seu planeta voltasse a um patamar de crescimento que se denominou de mais saudável.

Assim como a produção da Marvel pode ser intimamente associada à Teoria Demográfica Malthusiana, Lanterna Verde, da DC, é passível de ser relacionado com a problemática da Revolução Verde. Isso se dá, em um primeiro momento, pelo fato de combaterem um inimigo comum: no caso da trama, sob treinamentos para ser o novo Lanterna do planeta Terra, Hal se prepara para derrotar a misteriosa e maligna entidade Parallax; já a Revolução Verde, em princípio, está sustentada na ideia de combate à fome.

Ao final deste artigo, você entenderá todas as discussões acerca da Revolução Verde a partir da fracassada trama da DC. Ficou curioso (a)? Continue lendo!

Revolução Verde: Da modernização ao fracasso

Diante da necessidade da indústria química, destacada nos tempos de Segunda Guerra Mundial (1939-1945), de buscar novos mercados para vender seus produtos após o conflito, somada ao advento da ciência como única fonte de validade de saber, é que inicia a Revolução Verde na década de 1950, chegando em países da periferia global, na década de 1960.

No Brasil, a Revolução Verde emerge e se fortalece a partir da promessa de modernização do campo, de erradicação da fome, de aumento da produção, e, sobretudo como a nova era da agricultura e a busca de desenvolvimento aos países subdesenvolvidos, o que acabou por abrir caminhos para os bem pensados traços do agronegócio com a difusão de tecnologias agrícolas que visavam espaço no mercado de consumo de agrotóxicos e fertilizantes químicos.

Como resultado das medidas implementadas sob juízo da ideologia da Revolução Verde, a modernização do campo, que diz ter sido feita para combater o inimigo chamado fome, fez com que pequenos produtores fossem expropriados, dando lugar aos moldes empresariais de organização da produção garantindo que a divisão desigual de terras continuasse a existir, aumentando ainda mais as diferenças. Assim, pode-se dizer que a chamada modernização da agricultura não é outra coisa senão o processo de transformação capitalista da agricultura.

Ao encontro disso, o geógrafo Milton Santos é pontual em nos ensinar que o contexto em que a Revolução Verde é inserida no Brasil remonta à Segunda Globalização, que diferente da primeira marcada pelas colonizações, ocupação territorial, genocídio e exploração, é caracterizada pelas revoluções tecnológicas onde o consumismo é fundamental e a política é implementada através da ação das grandes corporações.

E aí, conhecendo essa realidade, é urgente nos distanciarmos das ideias que apontam a Revolução Verde como sendo a solução “milagrosa” para todos os problemas que tangem o espaço rural brasileiro, ideias estas muito disseminadas pela grande mídia, como, por exemplo, o clássico sloganAgro é tech, agro é pop, agro é tudo’. Muito pelo contrário, a Revolução Verde inserida na agricultura do Brasil é marcada por inúmeras contradições das quais lista-se a seguir:

1 – A promessa de emprego cai por terra, uma vez que as máquinas invadem o campo e a produção familiar diversificada passa a ser plantação de monocultura;

2 – O aumento da produção de alimentos para o mercado interno foi ínfimo, uma vez que os grandes campos de uma só cultura destinavam-se à exportação;

3 – O êxodo rural pautado no desemprego facilitou a solidificação do latifúndio e o surgimento da periferia no solo urbano;

4 – O alimento orgânico dá espaço ao alimento sem segurança alimentar; e

5 – A indústria química por si só não foi suciente, se fez necessária a introdução de sementes que recebessem a alta dose de fertilizantes e agrotóxicos e controles de pragas.

Em suma, faz tempo que a Revolução Verde “caiu por terra”, uma vez que a diversidade é sufocada pela monocultura, a especialização em uma só área de cultivo faz com que a policultura seja abandonada e junto com ela todas as práticas passadas de geração em geração.

Ademais, quando se compra a ração, o agrotóxico, o fertilizante e o próprio alimento e se produz para as necessidades do mercado exterior, os agricultores não participam mais dos processos de seleção de sementes, melhoramento genético e produção e desenvolvimento dos novos bens de produção, ficando tais funções ao cargo de corporações que desprezam as técnicas milenares utilizadas pelas populações e vende a alto custo as novas técnicas de “modernização” que nem todos podem comprar.

Percebendo isso, aquele objetivo de combater um inimigo comum, como no enredo de Lanterna Verde, já nesse momento jamais deveria ser comentado como sucesso de tal revolução. Aliás, revolução do quê? Para quem?

Além dos impactos sociais, importa fazer menção aos inestimáveis impactos ambientais que a Revolução Verde trouxe como a contaminação de alimentos, poluição das águas, desertificação do solo, desmatamento, surgimento de pragas cada vez mais resistentes a insumos químicos e a redução ou total desaparecimento das variedades de cultivo.

Desse modo, de uma vez por todas, admite-se que a Revolução Verde se mostrou um fracasso na América Latina, não apenas por ser mais um meio de disseminar a colonialidade a que continuamos sujeitados, como também ser conveniente ao latifundiário que produz em larga escala e tem condições de arcar com seus custos. É ainda um fracasso por menosprezar qualquer remota chance de justiça social e justiça ambiental, reforçando a desigualdade entre todos os habitantes do planeta.

Por fim, para sacramentar ainda mais o fracasso da Revolução Verde a partir da análise do filme Lanterna Verde, fizemos uma paródia do juramento dos Lanternas Verdes da seguinte forma:

Versão do filme:

“No dia mais claro,

Na noite mais densa,

O mal sucumbirá ante a minha presença

Quem venera o mal tudo perde

Frente ao poder do Lanterna Verde!”

Paródia:

No dia mais claro,

Na noite mais densa,

A fome sucumbirá ante a minha presença

Frente ao poder da Revolução Verde!

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