O interior de São Paulo e a região do triângulo mineiro no Sudeste do Brasil foram surpreendidas por uma erosão eólica de grandes proporções.

Moradores de cidades como Ribeirão Preto, Franca e Barretos no estado de São Paulo, além de Uberaba e Uberlândia no estado de Minas Gerais, registraram nas redes sociais o fenômeno que provocou diversas reações, principalmente espanto.

Em sites de notícias foram utilizados termos como “tempestade de areia” e “tempestade de poeira” para descrever o fenômeno. Mas o que há de errado em não se noticiar este fenômeno como uma erosão eólica?

O agronegócio e a “tempestade de poeira”

O local de ocorrência da “tempestade de poeira” se destaca por seu modelo econômico ligado ao agronegócio, tendo como destaque a monocultura de cana-de-açúcar.

Segundo o Relatório de Qualidade Ambiental de 2020 publicado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, das 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos que utilizam as bacias hidrográficas como unidade territorial, as bacias que englobam a Região Metropolitana de Ribeirão Preto são as que apresentam a menor cobertura de vegetação nativa.

A região atingida enfrentava um longo período de seca, que contribuiu para inúmeras queimadas, inclusive, prejudicando a qualidade do ar em municípios como Ribeirão Preto, que foi classificada como a pior do estado de São Paulo, segundo dados da CETESB.

As queimadas que retiram a matéria orgânica do solo associadas as técnicas de preparo do solo convencionais, como o revolvimento de camadas superficiais e gradagem (quebra dos torrões), deixaram o solo mais vulnerável a erosão.

Técnicas conservacionistas como o plantio direto na palha, que mantém uma cobertura de matéria orgânica no solo trazendo benefícios como retenção da umidade e proteção à erosão, ainda são pouco significativas na região.

Porque erosão eólica e não “tempestade de poeira” ou “tempestade de areia”?

O conjunto de fatores mencionados anteriormente como a seca prolongada, baixa cobertura de vegetação nativa e solos expostos, formaram um cenário ideal para a erosão eólica quando confrontados por uma tempestade com rajadas de ventos de até 90 km/h, que chegaram a mover um avião no Aeroporto Leite Lopes em Ribeirão Preto.

Área de instabilidade com destaque para a região atingida pela erosão eólica. Fonte: adaptado de INMET.

O termo “tempestade de poeira” representa o que de fato foi visível aos olhos de muitos habitantes da região, mas esconde que há um responsável por trás do ocorrido, já que a palavra “tempestade” remete a um fenômeno natural.

O termo “tempestade de areia” apresenta uma inconsistência pedológica, considerando que os sedimentos transportados pelo vento neste caso não são as partículas de areia, mas sim de argila e silte, predominantes nos solos da região, menores que a areia e portanto mais fáceis de serem transportados.

Quando falamos em erosão, estamos nos referindo a um dos grandes problemas ambientais do mundo atual, que tem como consequência o assoreamento e a contaminação de rios, perda da capacidade produtiva, desequilíbrios nos ecossistemas e redução do sequestro de carbono pelo solo, agravando o aquecimento global.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a perda econômica com a erosão chega na casa dos 200 bilhões de dólares anuais. Nas cidades atingidas por essa erosão eólica, os riscos podem ser a saúde e a visibilidade, causando acidentes.

Mesmo que a erosão seja um processo natural, o episódio de erosão eólica visto se trata de uma aceleração em decorrência das ações humanas. E para ser mais específico, as causas que levaram a esta erosão eólica de grandes proporções tem um responsável: o agronegócio.

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