A retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão vem ocorrendo gradualmente, desde o acordo de paz assinado entre Estados Unidos e Talibã no mês de fevereiro de 2020 em Doha, no Catar, ainda no governo de Donald Trump. 

Essa era uma promessa antiga, desde o governo de Barack Obama, já que dos vários objetivos dos EUA no Afeganistão, tais como, a vitória sobre o Talibã, o estabelecimento de um Estado laico, a aproximação estratégica com o Afeganistão e a captura e morte de Osama Bin Laden, apenas o último foi concluído.

O investimento dos EUA que chega na casa dos trilhões, incluindo treinamento, logística, aparato bélico e pensões de soldados feridos ou mortos. Esse fato desapontava uma grande parcela do eleitorado estadunidense, que com seus impostos, sustentava esse conflito, considerado o mais longo da história do país (superando até mesmo o conflito do Vietnã).

E a resposta para essa nova derrota dos EUA que fez com que o Talibã tomasse novamente a capital Cabul, 20 anos depois, está ligada ao mesmo motivo que fez o país ser derrotado na Guerra do Vietnã: a geografia.

Antes de falar um pouco sobre a geografia do Afeganistão, é importante retomar alguns fatos históricos que remontam a origem do Talibã.

A origem do Talibã

Em 1979, inicia-se a Guerra do Afeganistão, com a invasão de tropas soviéticas para contenção de revoltas contra o regime comunista que havia se instaurado no país. Um dos grupos que se revoltou contra este regime, eram os mujahidins, que contaram com apoio do vizinho Paquistão, mas principalmente dos Estados Unidos, com treinamento e fornecimento de armas.

Vale lembrar que este conflito foi parar nas telas do cinema, no filme Rambo 3, na qual o soldado norte-americano luta ao lado dos mujahidins. Há até uma dedicatória nos créditos do filme a este grupo. Eles também foram recebidos na Casa Branca pelo ex-presidente Ronald Reagan.

Na década de 1990, os mujahidins saíram fortalecidos da vitória contra os soviéticos. Com o objetivo de estabelecer a Xaria (lei islâmica) e afastar a influência ocidental no Afeganistão, o grupo agora denominado Talibã, passou a ocupar importantes centros como Kandahar em 1994 e finalmente, a capital Cabul, em 1996.

O território afegão então ocupado por um grupo fundamentalista islâmico, se torna um centro de treinamento de grupos terroristas, como a Al-Qaeda, responsável pelos atentados do 11 de setembro nos Estados Unidos.

Como uma resposta aos atentados, os EUA invadem o Afeganistão poucas semanas depois dos ataques que atingiram as torres gêmeas em Nova Iorque e o Pentágono. Apesar de terem enfraquecido e retirado o Talibã do poder, os EUA nestes 20 anos jamais conseguiram derrotar o grupo terrorista por completo.

A geografia do Afeganistão

O Afeganistão está localizado em uma posição estratégica, quase como um elo de ligação entre Oriente Médio, Ásia Central, Ásia Meridional e Extremo Oriente. O país faz fronteira com o Uzbequistão, Turquemenistão, Tajiquistão, China, Paquistão e Irã.

Seu clima predominantemente árido, onde as variações de temperaturas são extremas e as tempestades de areia são comuns, dificulta a circulação e a visibilidade de tropas armadas, mesmo as mais bem equipadas, como o caso dos soviéticos e dos estadunidenses.

O relevo é formado predominantemente pelas montanhas acidentadas do Indocuche, com grande instabilidade geológica que causam fortes terremotos, provocando deslizamentos de terra e avalanches no inverno. A bacia do Sistão, região situada entre o sudoeste do Afeganistão e sudeste do Irã, está entre uma das mais secas do mundo. A leste, se encontra um complexo de cavernas na cadeia de montanhas de Spin Ghar.

Essas condições renderam ao Afeganistão o título de “Cemitério dos Impérios”, já que o Império Russo e a herdeira de seu império, a União Soviética, além do Império Britânico, não foram capazes de superar as condições naturais do território afegão. Inclusive, a Guerra do Afeganistão é conhecida como o “Vietnã da Rússia”.

A derrota dos EUA na Guerra do Vietnã, a saída de suas tropas do Afeganistão e o consequente avanço do Talibã com a reconquista do território, mostram que mais uma vez, ter subestimado a geografia e os pequenos grupos combatentes não foi uma boa estratégia, seja nas úmidas florestas vietnamitas ou nas montanhas áridas afegãs.

Enquanto isso, a China se senta na mesa de negociações com o Talibã (assim como os EUA tentaram), para que este não interfira na sua província islâmica, Xinjiang, ao mesmo tempo em que se aproxima de um território estratégico para seus projetos da Nova Rota da Seda. É a Nova Ordem Mundial cada vez mais em vias de se consolidar.

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